“Não fica triste não” escutamos, desde crianças, cada vez que nossos semblantes denunciam o que está acontecendo dentro de nós. “Não fique triste assim” como se houvesse um botão capaz de desligar o sentimento e o fazer desaparecer. “Não acredito que você está triste por isso!”, como se nossa tristeza precisasse de autorização ou legitimação de quem nos cerca.
Não sabemos lidar com a tristeza, seja ela nossa ou do outro. Buscamos formas de nos distrair e enganar, tentamos todo o possível para espanta-la ou fazer de conta que ela não está lá. A tristeza dói, é indiscutível. E, mais que isso, a tristeza incomoda.
É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe.
Vinícius de Moraes tem razão. Se nos fosse dada chance de escolha, acredito que a alegria e o contentamento teriam mais espaço que a tristeza em nossas vidas. Felizmente não é assim. Digo felizmente por concordar com o poetinha também nos versos que seguem “é preciso um bocado de tristeza senão, não se faz um samba não”. A tristeza nos informa coisas valiosas sobre nossos afetos e sobre o que nos afeta, evidencia nossos pontos de fragilidade, aquilo a que damos valor. Seria muito difícil dar sentido às experiências que vivemos se a tristeza não aparecesse como um sinalizador.
Como todos os sentimentos, a tristeza também tem utilidade.
Tristeza não tem fim. Felicidade sim.
Penso que este seja um medo de muitos, se renderem à tristeza e se perderem, como quem entra em um caminho que não tem volta. A tristeza pode mesmo se tornar um mar para quem vai represando o sentimento, guardando em um lugar supostamente escondido e seguro, por medo ou por apego. Medo de sentir dor e se despedaçar, tamanha sua intensidade. Medo de colocar-se diante da tristeza do outro e perceber o tamanho daquela que carrega. Apego pela companheira que a tristeza pode se tornar quando fazemos dela substituta para a felicidade que se perdeu: “já não tenho mais esse amor ao meu lado, mas a tristeza que ele deixou ficará sempre comigo”.
Quando você ficar triste que seja por um dia e não o ano inteiro.
Precisamos aprender a ficar tristes. Receber o sentimento com sua dor e intensidade, tanto quanto for necessário, agindo de forma carinhosa e acolhedora para conosco a fim de cicatriza-lo, pouco a pouco. Ficar triste é diferente de ser triste*. Confessar-se triste não é sinal de ingratidão pelas coisas boas que se tem e tampouco deve ser visto como indício de fraqueza. Penso que seja exatamente o contrário. Acolher uma tristeza que surge, pelo motivo que for, respeitando-a, sem exagerá-la ou minimizá-la, pode tornar-se fonte de amadurecimento, fortalecimento e crescimento.
Imagem: “Abraços sobre papel” 03, de Fabriano Rocha.
*Ficar triste é diferente de estar deprimido. Não é incomum que escutemos falas como “fiquei deprimida depois de assistir a esse filme” e este é um equívoco sério, que merece ser comentado. Em breve lançaremos um texto falando sobre depressão, aguardem.
**Patrícia Saar Paz CRP 04/34248 é psicóloga clínica na cidade de Belo Horizonte (MG). Atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Contanto: multiversoterapeutico@gmail.com