Em outros dois textos da série Pequenas Conversas (que você pode acompanhar aqui e aqui), falamos sobre como conversar com as crianças de maneira a desenvolver uma comunicação saudável e funcional. Hoje trataremos de uma das atividades mais corriqueiras da infância, a brincadeira.
Brincar é coisa séria.
Alguns cuidadores subestimam a importância do brincar, considerando a atividade como mero entretenimento. Este é um grande e perigoso engano. Brincando as crianças tem oportunidade de conhecer e aprender sobre o mundo ao seu redor, desenvolvem variadas habilidades físicas, motoras e sociais, além de poderem experimentar, organizar e expressar emoções. Através de brincadeiras e jogos elas aprimoram a linguagem e a comunicação, aprendem a respeitar regras, agir de forma cooperativa e competir de maneira saudável.
Toda criança precisa de tempo e liberdade para brincar. Leve em consideração essa necessidade e a importância desta atividade na hora de escolher a escola de educação infantil ou de planejar as atividades extras de seus filhos e filhas. Nada substitui a função do brincar no desenvolvimento da criança.
Brinquedo é coisa de criança.
Cuidadores ainda têm muitos medos relacionados aos papeis femininos e masculinos (para tirar dúvidas sobre sexo, gênero e orientação sexual, sugiro a leitura deste texto aqui). Alguns pais são bastante rígidos com relação às brincadeiras que seus filhos e filhas podem ou devem desempenhar. Boneca é coisa de menina, carrinho é coisa de menino. Gostaria de acalmá-los e convida-los a refletir.
As brincadeiras ajudam a criança a desenvolver habilidades diversas. Cuidar de uma boneca dá uma boa dimensão de responsabilidade, da seriedade de ter alguém dependendo de si. Se você é pai/tio/avô/padrinho, em diversos momentos deve ter carregado um bebê, trocado suas fraldas, dado banho e mamadeira. São obrigações, mas também ações de carinho e cuidado, de interação com um pequeno ser que devolve esse afeto de forma muito pura, gostosa de sentir! Qual o problema do seu menino simular esse tipo de cuidado através da brincadeira?
Brincar com um carrinho estimula a imaginação, ensina relações de causa e efeito, aprimora habilidades motoras mais finas e relações espaciais. Sua filha não necessita deste tipo de desenvolvimento? Estas não são habilidades importantes para a criança por ser uma garota? Por que impedir que ela brinque desta forma ou considerar uma ação masculina?
Repito, brinquedo é coisa de criança. Pensar em brincadeira de menino e brincadeira de menina acarreta na privação de experiências importantes para seus filhos, podendo prejudicar e tornar deficitário seu desenvolvimento. Não deixe que seus medos e preconceitos interfiram na brincadeira das crianças!
Nem tudo é brinquedo.
A criança está inquieta, chata, incomodada e incomodando todos ao redor:
Olha aqui o joguinho do celular da mamãe. Pega o tablete do titio e pode brincar. Onde está seu vídeo game portátil?
Pronto, deu sossego.
Não se engane pensando que o tempo diante da tela substitui a brincadeira sentado no chão, correndo na praça ou com o grupo de coleguinhas. Jogos eletrônicos podem estimular habilidades e ter um caráter pedagógico (o que não é uma característica comum a todos eles, então fique atento/a ao que sua criança está jogando), mas não devem ser utilizados como brinquedos exclusivos ou predominantes para as crianças.
Esses tipos de jogos são considerados práticos pelos pais e conquistam rapidamente a atenção e preferência de muitos pequenos, mas outras formas de brincar devem ser estimuladas para proporcionar à criança um desenvolvimento pleno e saudável.
Brinque você também!
Não é exatamente uma proposta e sim uma necessidade. Assim como você deve nutrir sua filha/o, cuidar de suas enfermidades e garantir sua segurança, você também precisa brincar com ela/ele. Não apenas quando der tempo ou vontade, mas de forma compromissada, todos os dias.
Parece difícil, não? Mas vamos refletir: se o brincar tem uma importância tão grande no desenvolvimento de sua criança, essa não deve ser uma prática da qual você também faz parte?
Além de proporcionar o desenvolvimento de habilidades, quando cuidadores e crianças brincam juntos seus laços de afetividade são fortalecidos, as relações se tornam mais próximas e a confiança entre eles aumenta.
Dedique pelo menos 15 minutos do seu dia para brincar com sua criança. Deixe que ela conduza a brincadeira, não tenha medo de não saber brincar e participe verdadeiramente da atividade. Sentar ao lado da criança que brinca enquanto você assiste TV ou confere as mensagens no celular não é brincar de verdade! Eletrônicos também não devem fazer parte desse momento.
Com dedicação, sensibilidade e um pouco de tempo, você verá que brincar com seus filhos fará tão bem a você quanto faz a eles!
Imagens: Imagens retirada da Internet, autoria desconhecida.
*Patrícia Saar Paz CRP 04/34248 é psicóloga clínica na cidade de Belo Horizonte (MG). Atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Contanto: multiversoterapeutico@gmail.com