Problemas e dificuldades fazem parte da vida. Não existe quem não os tenha ou precise resolvê-los. Digo que problemas emergem, surgem em nosso caminho mesmo que não os tenhamos deliberadamente “procurado”.
Estou dirigindo para o trabalho quando, de repente, um motorista se distrai na direção e bate na traseira do meu carro gerando um estrago que precisará ser resolvido e me privará do veículo por duas semanas.
Chamo esse tipo de situação de emergência. Problemas, empecilhos ou dificuldades que nos acontecem em algum momento e demandam atenção e cuidado. O espectro de possibilidades é vasto: desorganização financeira, uma ansiedade que nos incomoda, uma tristeza constante, crise no relacionamento, brigas frequentes com o filho, perda do emprego, insônia, acúmulo de tarefas do trabalho, aumento da ingestão de bebida alcoólica. Todos esses são exemplos de emergências e sinalizam a necessidade de algum tipo de intervenção.
Entretanto, quando somos negligentes com esses problemas criamos condições para que eles se transformem em urgências. A urgência se instaura quando os prejuízos por postergar uma determinada situação se tornam crônicos ou até mesmo irreversíveis. Se não nos comprometemos com as melhorias necessárias em nosso ser e estar na vida, abrimos brecha para que as dificuldades possam se tornar maiores e mais complexas.
Urgências assustam, tem um potencial desestabilizador e nos colocam em desespero diante das consequências que ameaçam trazer para nossas vidas. Neste momento é comum que se inicie uma corrida contra o tempo, lamentando as oportunidades desperdiçadas e buscando reduzir os danos que já se instauraram.
Assim como o coelho de Alice, nos lançamos desenfreados e atônitos com medo de que a vida nos corte a cabeça. No desespero e imediatismo da urgência as ações em sua maioria acabam sendo atuações. Perdemos o foco, a estratégia e nos entregamos ao fazer compulsivo, movido pelo medo do quadro delicado com o qual temos que lidar. Se tivéssemos cuidado do problema quando ele emergiu a ação não seria contra o tempo, mas usando o mesmo como aliado. As consequências não seriam tão drásticas.
O medo de encarar problemas e dificuldades cria condições para que cortes profundos e mais dolorosos sejam necessários.
Mas, como perceber uma emergência que pode se tornar urgência?
Através da auto-observação. Sabe aquele incômodo ou problema que você sabe que existe, que pouco a pouco vem crescendo em suas preocupações e na maioria das vezes prefere “empurrar para debaixo do tapete” e fazer de conta que não está alí? Este é um bom sinal para avaliar uma emergência que precisa de sua atenção
É desafiador deixar de postergar e iniciar um movimento em prol de si mesmo, mas a sensação de competência e capacidade que acompanha a realização de algo positivo para a evolução na vida é compensadora. Necessitamos do senso de competência para nos fortalecermos e sentirmos aptos a enfrentar novos e maiores desafios.
Que tal aproveitar os últimos três meses deste ano e investir em você cuidando daqueles problemas que demandam atenção? É muito importante ficar atento às sabotagens e desculpas ao longo do processo.
Proponho um exercício que pode ser útil:
- Escolha um problema que já perdure, tem causado prejuízos e para o qual sempre postergue o cuidado.
- Pergunte-se: Este compromisso é só meu? Envolve só a mim? Pode ser que a emergência que está ameaçando se tornar urgência seja no casamento, por exemplo, e envolva outra pessoa que também precisará se empenhar com você.
- Faça uma lista de todas as ações e estratégias que você precisará colocar em prática para conseguir levar adiante seu compromisso;
- Antecipe os obstáculos que precisará enfrentar, possíveis sabotagens, empecilhos, desafios e desculpas que por ventura encontrará;
- Destaque todos os pensamentos e crenças que poderão atrapalhar a manutenção do seu compromisso e minar as energias;
- Reestruture cada um destes pensamentos para dispor de alternativas positivas que redefinam seu padrão mental;
- Pergunte a si mesmo se precisará de alguma ajuda para levar adiante este compromisso e defina que ajuda será essa. Pode ser profissional ou de pessoas próximas. Contar com uma rede de suporte pode fazer toda a diferença.
Imagem: retirada da internet. Filme: Alice no País das Maravilhas.
*Vinicius Cavalcanti de Abreu – CRP 04/22.700 é psicólogo clínico na cidade de Belo Horizonte (MG). Atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias. Contato: multiversoterapeutico@gmail.com